Há histórias que valem a pena relembrar. No Trendy Notes desta semana destacamos 6 mulheres notáveis portuguesas que dedicaram as suas vidas a transformar o mundo. Ora leia e inspire-se!
Carolina Beatriz Ângelo | “A MULHER DO PRIMEIRO VOTO”
Carolina Beatriz Ângelo nasceu em 1878, na Guarda. Cresceu num ambiente liberal, o que lhe permitiu frequentar o Liceu da Guarda e concluir em 1902 o curso de Medicina na Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa.
Além de ter sido a primeira cirurgiã portuguesa, foi uma destacada ativista da Liga das Mulheres Portuguesas, desde 1909. No mesmo ano, morreu o seu marido. Ficou, assim, viúva e com uma filha a cargo.
Em 1911, data das eleições para a Assembleia Constituinte, ainda era negado em toda a Europa (à exceção da Finlândia) o direito ao voto das mulheres. Carolina Beatriz aproveita uma omissão na lei, que dizia que o voto era permitido aos «cidadãos portugueses com mais de 21 anos, que soubessem ler e escrever e fossem chefes de família» para se tornar a primeira mulher a votar no nosso país. Foi obrigada a defender-se em tribunal para o fazer e acabou por morrer no mesmo ano.
Posteriormente, em 1913, a lei foi alterada para impedir novamente as mulheres de exercerem o direito ao voto, o que constituiu um retrocesso civilizacional inegável. Em dezembro de 1968, o número de votantes foi alargado a todos aqueles que soubessem ler e escrever. Contudo, foi só depois do 25 de abril de 1974 que o direito ao voto se tornou universal em Portugal.
Maria Isabel Wittenhall Van Zeller | “A MULHER DA PRIMEIRA VACINA”
Maria Isabel Wittenhall nasceu em 1749, em Avintes. Casou aos 17 anos com Pedro van Zeller, que desempenhava as funções de cônsul russo no Porto, de quem teve três filhos.
Notabilizou-se, no início do séc. XIX, com grande sacrifício pessoal, pelo seu papel pioneiro na introdução e aplicação da vacina da varíola em Portugal.
A vacina da varíola foi criada por Edward Jenner, em Inglaterra, e tornou-se revolucionária por introduzir avanços significativos em relação à técnica anteriormente utilizada, conhecida como variolação.
Na Quinta de Fiães, Maria Whittenhall van Zeller terá administrado com sucesso 13,408 vacinas contra a varíola, o equivalente a cerca de 18% das vacinas administradas em Portugal nesse período. Chegou a ser perseguida devido a este contributo, tendo sido, inclusivamente, acusada de bruxaria.
Maria Wittenhall van Zeller viu-se forçada a pedir apoio à Royal Academy of Sciences, para se livrar das acusações e poder prosseguir com as vacinações à população dos arredores da Quinta de Fiães. A Academia britânica não se limitou a apoiá-la. Presenteou-a com a sua medalha de ouro, um agraciamento reservado exclusivamente a figuras de grande relevo na área da ciência.
Maria van Zeller morreu a 5 de novembro de 1819, no Porto. Calcula-se que tenha salvo a vida a milhares de crianças.
Sarah Affonso | “A MULHER QUE MUDOU O MODERNISMO”
Sarah Sancha Afonso nasceu e morreu em Lisboa. Foi, contudo, no Minho, mais precisamente no distrito de Viana do Castelo, que viveu os seus anos formativos, tendo vivido nesta província dos 5 aos 15 anos.
Estudou pintura na Faculdade de Belas Artes de Lisboa, onde foi aluna de Columbano Bordalo Pinheiro, e passou alguns períodos em Paris. Por força da sua pintura, ilustração e ideias, torna-se presença habitual nas tertúlias mais notórias do seu tempo nestes campos.
Casou em 1934 com Almada Negreiros. Nos primeiros anos de casamento, pinta alguns dos seus quadros mais importantes, inovando pelos temas e pelo estilo. Construiu um percurso notável como artista modernista.
A partir de finais da década de 1940, dedica-se com muito menos intensidade à pintura, desanimada com a falta de reconhecimento. Trabalha com mais intensidade nas artes decorativas e ilustração, vistas, à época, como “artes menores”.
Só muito recentemente foi reconhecido o real valor da artista Sarah Affonso no nosso país. A Fundação Calouste Gulbenkian dedicou-lhe uma exposição retrospetiva com grande relevo, repondo, já bem depois da sua morte, alguma justiça no destaque dado à sua obra.
Guilhermina Suggia | “A MULHER QUE DEU MÚSICA AO MUNDO”
Guilhermina Suggia nasceu no Porto, em 1885. Terá sido através da convivência com o pai, que era violoncelista, que desenvolveu uma apetência pela música clássica.
Com apenas 13 anos, Guilhermina Suggia era já a violoncelista principal do Orpheon do Porto. Em 1901, prossegue estudos na Alemanha, beneficiando do apoio de uma bolsa governamental. São anos, ainda assim, caracterizados por dificuldades financeiras vincadas, uma vez que a família tinha poucas posses.
Data de 1903 o regresso de Guilhermina Suggia a Portugal, e é também nesse ano que a sua música encanta o mundo. Após concerto de receção apoteótica no Porto, percorre as principais salas europeias. O seu virtuosismo causa sensação também à escala continental.
Depois de ter estudado e convivido de perto com o violoncelista Pablo Casals (o mais conhecido do seu tempo), Suggia muda-se para Londres, onde é novamente recebida com sucesso estrondoso pelo público.
Guilhermina Suggia morreu no Porto, em 1950. Além de executante de exceção, criou ainda numerosos programas de apoio à música clássica no nosso país. Pouco reconhecida, num país em que a música clássica é pouco divulgada, chegou a ser considerada como a melhor violoncelista do seu tempo, ao mesmo nível de Pablo Casals.
Carolina Michäelis | “A MULHER QUE SABIA MAIS”
Carolina Wilhelma Michaëlis de Vasconcelos nasceu em Berlim, em 1851, e morreu no Porto, em 1925. Demonstrou desde cedo uma aptidão excecional para as humanidades. Aos 7 anos, quando ingressou no liceu, já sabia ler e escrever e demonstrava uma capacidade extraordinária para as línguas e literaturas germânica, eslava e latina.
Com apenas 16 anos de idade, Carolina já era publicada em revistas da especialidade. A sua carreira de crítica literária, escritora e lexicógrafa continuava a desenvolver-se a bom ritmo.
Em 1876 casa-se com um português, também ele investigador. É por este motivo que se muda para o nosso país, alternando, com a família, a residência entre Lisboa, Braga e Porto.
Realizou algum do mais importante trabalho sobre a literatura e a cultura do nosso país, além de a divulgar como muito poucos no estrangeiro.
Em 1911, recebe o muito merecido convite para integrar a Universidade de Lisboa. Tornou-se a primeira mulher a exercer a atividade de professora universitária no nosso país. Além de todo este percurso notável, Carolina Michäelis foi ainda uma das primeiras mulheres a destacarem-se na sua luta pelos direitos das mulheres. Faleceu em 1925. Em 1926, o Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas elegeu-a como presidente honorária.
Maria José Estanco – “A MULHER QUE LUTOU POR UM SONHO”
Maria José Estanco nasceu em 1905, no concelho de Loulé, no Algarve.
O seu percurso académico foi acidentado. Primeiro, ingressou na formação para ser professora liceal. Depois, acaba por mudar para o curso de pintura da Escola de Belas Artes de Lisboa.
Aos 21 anos ocorre um episódio que mudaria a sua vida. Durante uma viagem ao Brasil, em que acompanhou a sua mãe, Maria José assiste à construção da cidade de Marília, no interior do estado de São Paulo. Impressionada pelo que vira, ao regressar a Lisboa, troca novamente de curso, abandonando Pintura para ingressar no curso de Arquitetura. Na sua nova turma, era a única mulher.
Em 1930, casa com o pintor Raimundo Machado da Luz. Em 1935, conclui com sucesso a parte regular do curso de Arquitetura. Em 1942, que foi também a data do nascimento do seu primeiro filho, Manuel, defende com sucesso o seu projeto de curso. Obtém a classificação de 16 valores, tornando-se, assim, a primeira mulher diplomada em Arquitetura. Ainda em 1942, é galardoada com o prémio de Melhor Aluno de Arquitetura, coroando com mérito ainda maior o seu percurso académico.
Apesar de todo o seu valor, e de ter tentado insistentemente entrar em ateliers e gabinetes municipais de arquitetura, para exercer a sua profissão, o acesso à mesma foi-lhe sempre negado. Isto, devido ao simples facto de ser mulher. Acabou por dedicar-se ao ensino, atividade que chegou a exercer de forma voluntária.
Em 1997, a morte do seu filho Manuel abala-a profundamente. Em 1999, Maria José Estanco morre aos 94 anos.
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